sexta-feira, 26 de abril de 2013

Garçom Cangaçeiro






Eles não vestem ternos nem paletós. Nem são empresários ou trabalham em escritórios e participam de reuniões de negócios. Simplesmente usam e abusam de suas fantasias para garantir sustento próprio e dos familiares. E tudo com intenso amor ao que fazem e ao próximo.
"Não tem preço o abraço de uma criança", afirma o palhaço Katytullin, que há 20 anos se dedica à profissão. Suas roupas coloridas e seu ‘sapato 82' não têm vez para o preto.
Há um ano, o nordestino Edivaldo Quintino de Oliveira se transformou no cangaceiro do bem como anfitrião em restaurante de Santo André. "É gratificante", ressalta o novo astro.
E por fim a trajetória do mascote do São Bernardo Futebol Clube, o famoso Tigre no corpo e na voz do roupeiro João Calixto da Silva. Por trás das máscaras, a realidade em fantasia.

Edivaldo Oliveira, o cangaceiro da paz
Ele é o mais novo pop star da Avenida Dom Pedro II, em Santo André. Não tem quem não o veja ou acene para o cangaceiro da paz natural de Frutuoso Gomes, no Rio Grande do Norte, registrado há 50 anos como Edivaldo Quintino de Oliveira. De terça-feira a domingo, só dá ele em frente ao restaurante de comida típica nordestina para atrair a clientela.
"Fala Lampião", grita um dos passageiros em uma Kombi, que trafegava pela avenida sentido São Caetano, enquanto a equipe do Diário entrevistava o cangaceiro na quarta-feira na hora do almoço. Não tem como deixar de remeter à figura de Virgulino Ferreira da Silva, o temido Rei do Cangaço.
De sotaque típico da região do Nordeste, Oliveira, de fala fácil e afiada, defende-se. "Sou um cangaceiro do século 21. Não do mal, mas que traz alegria", diz o novo astro do sertão urbano.
No papel de cangaceiro Oliveira está há um ano, exatamente quando o restaurante começou a funcionar. Sócia do Mandacaru, a cearense Flavia Medeiros, 40, é uma das idealizadoras de colocar o personagem, que encanta adultos e crianças, na porta do estabelecimento comercial. "O sucesso foi total", comenta.
Oliveira comemora e ainda posa para as fotos. "A cada segundo é um que buzina ou pede para fotografar", afirma, com o apito na mão e os óculos de sol no rosto - único acessório que destoa do vestuário característico do bando de Lampião.
Aliás, o apito, conta o cangaceiro de plantão, foi a forma encontrada para se comunicar com o público. "Quando chegava no fim da tarde, antes do apito, a garganta estava estourada de tanto falar ou gritar. Agora, a saudação é por aqui", revela, entre uma e outra assoviada de saudação.
O cangaceiro tem sua Maria Bonita, Sebastiana Oliveira, que de apenas quatro dias de namoro resultou em 27 anos de casamento e três filhos - todos homens. Depois de bater e voltar três vezes do Rio Grande do Norte para o Grande ABC, em 1998, Oliveira, definitivamente, fincou a barraca em Santo André, onde mora até hoje. "Hoje não volto mais para lá. Só a passeio", garante.
Ao lado do marido Allan Silva, 27, a médica Cristiane, 33, de Ribeirão Pires, se divertiu com o personagem. "Ele chama a atenção", afirma, ao se deparar com o típico cangaceiro de chapéu de couro, calça e camisa em tons ocre, o lenço colorido estampado e nos pés as famosas alpargatas.
Na lapela da camisa, um broche com saudação pela paz. "Foi um senhorzinho que passou por aqui e pediu se eu poderia usar", conta Oliveira, que à noite se transforma em não reconhecido garçom de pizzaria.

Minha vida é o Katytullin, diz Ray, o professor de Arte
Ex-professor de Educação Artística em escola estadual de Diadema, Raimundo Nonato Pereira de Oliveira, 37 anos, morador no bairro Valparaíso, em Santo André, há 20 anos respira e transpira o colorido palhaço Katytullin. "A minha vida é ele", confessa Ray, que tem o personagem patenteado há cerca de 7 anos.
E não é difícil perceber a relação íntima que o pós-graduado em Arte-educação, além de Estética e História da Arte, mantém com Katytullin. Duas vezes na semana, Ray enfrenta cerca de uma hora e meia, entre ônibus e trem, para chegar à Escola Municipal de Música de Ribeirão Pires. Lá, estuda flauta para o seu "palhacinho", como o trata carinhosamente.
A flauta é um plus nas apresentações de Katytullin, que já encara a popular Asa Branca, de Luiz Gonzaga, o eterno Rei do Baião. O professor, ator, diretor e palhaço, com carteira assinada e tudo, faz festas em geral, desde inaugurações até aniversários - com direito as esculturas com balões.
"Apesar de ter estudado muito em minha vida, sempre gostei de trabalhar como palhaço", afirma Ray, que constantemente se especializa na área - são sete cursos entre clown (o palhaço de teatro) e monitor de lazer. Todo esforço é para o sustento dos pais idosos. "Quem é da classe baixa não pode escolher", avalia.
Entre 3 e 31 de outubro, o também artista plástico é o nome principal de exposição de artes no Museu de Santo André - a primeira solo. O tema, evidentemente, será o circo.
Nascido em São Raimundo Nonato, cidade do Piauí e que deu origem ao nome de batismo, Ray não se intimidou em se transformar no simpático Katytyllin para a equipe do Diário, durante entrevista e produção na quinta-feira à tarde, no Parque Escola de Santo André. "Nem sempre você chega pronto à festa, às vezes a gente se veste pelo meio do caminho", afirma, com orgulho o palhaço colorido.

Tigre, o mascote do São Bernardo que perdeu peso
João Calixto da Silva, 47 anos, é o funcionário de 1.001 utilidades do São Bernardo Futebol Clube. Quando não está no vestiário como roupeiro do time que disputa a segunda fase da Série A-2 do Paulista, Calixto incorpora o Tigre, o mascote da equipe amarela e preta.
Aliás, a partir de hoje, muitos torcedores terão revelada a verdadeira identidade do serelepe mascote, que alegra a galera em dias de jogos ao distribuir os dois quilos de balas - devidamente divididos entre o primeiro e o segundo tempo. "É tudo uma festa, mas quando o doce acaba, aí, o coro vira para ‘Tigre boiola'", conta Calixto, aos risos, que divide seu coração entre os times do São Bernardo e do São Paulo.
Pai do lateral esquerdo Matheus Henrique, o Calixtinho, da equipe Sub-17 do São Bernardo e que disputa o Paulista, Calixto virou o mascote durante a Copinha, promovida em junho de 2011.
Na época, estava com 90 quilos, que foram facilmente diluídos embaixo da fantasia confeccionada em tecido nada transpirante, principalmente em dias de sol. "Chego a perder até meio quilo por partida", confessa o Tigre, que com a nova performance corre no campo e ainda chuta a bola para a galera. "Agora estou em forma", diz, animado.









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